Fine Art e seu universo

Fine Art
Foto: Ana Paula Umeda

Como definir o que é Fine Art? Das cavernas de Lascaux e Chauvet até os ambientes interativos/imersivos de Maurice Benayoun e Jeffrey Shaw, e nesse intervalo podemos colocar Homero, Da Vinci, Bach, Shakespeare, Kafka, Bowie, Warhol, Cartola, Tarkovsky, Kurosawa, Cláudia Andujar, Machado de Assis, Clarice, Kobra, Frida, Arthur Bispo do Rosário e etc., a arte, em todas as suas mais diversas manifestações e linguagens, parece sempre ter buscado, em essência e entre outras coisas, mostrar o que está na mente de quem a produz.

Desde os primeiros vestígios de criação até os rabiscos caóticos que produzimos ao acaso durante uma conversa, nosso cérebro, tão complexo, parece sentir a necessidade de transbordar o universo que ele encerra e se fazer inteligível para quem está fora – seja pela palavra, pelas imagens ou pela música – e para que quem está dentro também possa se conhecer ou, pelo menos, começar a ter algumas pistas sobre quem sou e quem é o outro.

Fine Art é uma obra gráfica criada por um/uma artista através de mídias fotográficas, digitais ou tradicionais digitalizadas. A produção física da Fine Art segue um rigoroso processo técnico. A combinação entre uma impressora jato de tinta de pigmentação mineral, especializada nesse tipo de processo, e a imagem produzida pelo artista que é impressa em papéis especiais de algodão ou alfa-celulose. Como resultado, temos uma obra de arte de alta qualidade que pode ter uma longevidade superior a 400 anos.

 

Um mundo de possibilidades

A seguir listamos alguns exemplos de fine art. É importante ressaltar que o ideal é que cada obra tenha uma tiragem limitada e seja assinada pela/o artista. É bastante comum ela ser acompanhada de um certificado de autenticidade e, em alguns casos, o estúdio onde foi impressa pode fornecer um certificado que comprova que a impressão cumpriu todas as exigências para ser considerada fine art. Todos esses itens contribuem para a valorização da obra de arte.

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Fonte: site Hahnemühle

 

  • Fotografia fine art: também conhecida como autoral ou artística é aquela imagem mais carregada de subjetividade, onde o compromisso de mostrar a realidade pode ser quebrado, sua prioridade é expressar os sentimentos e visões mais caras ao artista. Aliada à técnica, linguagem e composição ela oferece, em meio às possíveis camadas de sentido, um espetáculo e um desafio ao seu observador.
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Fonte: site Canon

  • Obras gráficas produzidas em computador: as mesas digitalizadoras, como as da Wacom ou da Huion, em conjunto com programas como o Photoshop, Corel Painter ou Gimp, oferecem para as/os artistas a possibilidade de produzir desenhos ou pinturas digitais com qualidade e precisão.
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Fonte: site Wacom

  • Obras gráficas produzidas em técnica bidimensional: pinturas ou desenhos, por exemplo, produzidos com as técnicas tradicionais podem ser digitalizados para darem origem a uma obra fine art. A depender do tamanho e da flexibilidade do material, podem ser fotografados ou escaneados. O processo precisa ser feito de maneira profissional de modo a garantir a correta captura de cores, texturas e detalhes. No caso, o scanner precisa ser apropriado para obras de arte como, p. ex., o WideTEK® 36ART da Image Access.
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Fonte: site Macrosolution

 

Workflow da produção fine art

O fluxo de trabalho é a cadeia de tarefas que precisam ser executadas desde a concepção de um projeto até a sua finalização. A função principal é organizar as atividades, torna-las mais eficientes e evitar algumas surpresas, não todas. Mesmo que você trabalhe em uma equipe de uma pessoa só, e no começo é assim para muita gente, existirão etapas a serem cumpridas e algumas delas podem envolver, inclusive, outras pessoas e empresas.

Fizemos as nossas fotos, pinturas digitais ou digitalizamos nossos desenhos. Cada produção vai obedecer ao seu fluxo de trabalho particular, mas, independente das diferenças de origem, será gerado um arquivo digital com a imagem. Esse arquivo será enviado para o estúdio onde será impresso.

A partir desse momento estamos no fluxo de trabalho de impressão. Iremos determinar como essa imagem deverá ser impressa: tamanho do papel (inclui-se a mancha – área impressa – e margem, se for o caso), qual o papel e, dependendo do caso, qual tipo de montagem ela irá receber. O arquivo será analisado para a verificação da resolução (quantidade de pixels), confirmar se o arquivo será capaz de gerar uma impressão com o tamanho desejado. Lembre-se que podemos imprimir desde o tamanho A5 até impressões com 3m de comprimento. Se for uma impressão de grande formato, há a possibilidade de ser pedida uma prova para o estúdio que, de acordo com a política de cada um, poderá ser cobrada ou não. Essa prova servirá para verificar a resolução (ver se a impressão não perde definição ou se fica pixelizada) e se a escolha do tipo de papel foi adequada.

Atenção: ter um arquivo grande não significa que ele tenha a resolução necessária. A resolução é importante inclusive para pequenos formatos, em todos os casos ela deve ser conferida. Outro detalhe é a proporção. A impressão precisa respeitar a proporção da imagem para que não haja cortes. Isso acontece mais quando utilizamos papéis que já vêm formatados (A4, A3, A2). Vamos usar como exemplo uma folha no tamanho A4. Para facilitar o cálculo utilizaremos os valores arredondados 20x30cm. Se imaginarmos uma margem de 1,5cm de cada lado, a área que receberá a impressão (mancha) terá 17x27cm, logo, o maior lado terá até 27cm e o outro será proporcional. De acordo com a proporção da imagem as margens não serão as mesmas para todos os lados.

Essas checagens são feitas no estúdio de impressão. Com tudo definido chega a hora de imprimir. Normalmente são utilizados aplicativos para realizar a impressão, essa pode ser uma operação que exige mais do que o Ctrl+P. Algumas empresas possuem softwares para a organização dos mais diversos fluxos de trabalho de impressão, por exemplo, os da HP DesignJet e o Epson Print Admin. Ter um fluxo de impressão organizado, além do ganho em qualidade, economiza tempo e insumos, o que acaba contribuindo para a sustentabilidade da produção.

 

O papel fine art

Os papéis fine art precisam atender a uma série de requisitos. São papéis de altíssima qualidade, produzidos com fibras naturais, geralmente algodão ou alfa celulose, sem branqueadores óticos e com ph neutro. Eles vêm com um revestimento (coating) responsável pelos diferentes tipos de superfície e que proporciona uma melhor distribuição da tinta no momento da impressão. Os papéis garantem a qualidade e a longevidade das obras fine art.

Os fabricantes mais utilizados são:

  • Hahnemühle: empresa alemã fundada em 1584. São mais de quatro séculos de tradição na fabricação de papéis. Sua linha Digital Fine Art conta com uma variedade enorme de opções. Papéis lisos ou com textura, foscos, semi-brilho, brilho e também alguns tipos de canvas. Destaque para o Photo Rag® 100% algodão, branco, liso, fosco; Museum Etching 100% algodão, branco, textura, fosco; FineArt Baryta 100% alfa celulose, branco, liso, semi-brilho.
  • Canson: empresa francesa fundada em 1557. Também com mais de quatro séculos na fabricação de papéis. Sua linha fine art Infinity apresenta vários tipos de papéis fine art. Destaque para o Rag Photographique 100% algodão, branco, liso, fosco; Edition Etching Rag 100% algodão, branco, textura, fosco; Baryta Photographique 100% alfa celulose, branco, liso, semi-brilho.

Os papéis (inclusive o canvas), a depender do tipo, podem ser encontrados em diversos tamanhos, desde as folhas A4 até rolos para impressões de grandes formatos. De acordo com a quantidade e tamanho, imprimir no rolo pode ser mais vantajoso. Os arquivos são encaixados de acordo com a melhor distribuição espacial gerando economia de papel. Esse item também entra no fluxo de trabalho da impressão e pode ser combinado com o estúdio.

Impressão Fine Art

Fonte: Site Hahnemühle

 

Impressoras e pigmentos minerais

Para papéis especiais impressoras e tintas também especiais. A produção fine art precisa estar atenta à utilização de tintas à base de pigmentos minerais. Além de garantirem qualidade e longevidade, o pigmento mineral, não solúvel, é mais resistente à umidade. Dentro dos cuidados recomendados, a obra poderá durar mais de 200 anos! Conheça alguns modelos de impressoras e seus pigmentos:

  • HP: DesignJet Z3100 e Z3200 – impressoras com a tinta à base de pigmento mineral HP Vivera de 12 cores.
  • Epson: Stylus Pro 9880 com tinta à base de pigmento UltraChrome K3
  • Canon: imagePROGRAF iPF5100 e LUCIA com tinta à base de pigmento mineral de 12 cores
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Fonte: site HP

 

Para mais informações importantes sobre qualidade e longevidade fine art, leia também: Fine Art: impressão com qualidade e longevidade.

 

Montagem e conservação

Temos nossa imagem impressa, mas o trabalho ainda não acabou. Se quisermos que ela atravesse gerações precisamos tomar mais alguns cuidados. A mancha não pode ser tocada, por isso é sempre bom deixar um pouco de margem para o manuseio da impressão. Essas obras ficarão guardadas/arquivadas? Existem álbuns, estojos e caixas especiais, livres de ácidos, para acondicionamento. As folhas com a impressão, quando guardadas em caixas ou estojos, precisam ser intercaladas com papel glassine ou colocadas em plásticos adequados.

Fine Art

Fonte: site Hahnemühle

 

Fine Art

Fonte: site Hahnemühle

Se o destino for exposição, o mais adequado é que ela seja emoldurada. É preciso escolher um lugar que siga as recomendações museológicas, pois todos os materiais precisam ser livres de ácido. A impressão precisará ser adesivada em foam board ou colocada no passe-partout. O vidro não pode encostar na mancha, se for uma moldura tradicional o passe-partout irá fornecer a distância necessária, no caso de moldura tipo caixa, o vidro já fica distante.

Os vidros com proteção UV são os mais indicados, mas são bem mais caros que os vidros normais. O ideal é que a escolha de moldura e vidro seja fita in loco, existem algumas variedades de vidro antirreflexo, mas é bom prestar atenção, pois alguns apresentam um pouco de textura. A depender do vidro a ser utilizado, se a imagem possuir predominância de áreas escuras a tendência é que ela vire um espelho, por isso todos esses detalhes precisam ser avaliados.

Fine Art

Fonte: site Canson

Existem alguns tipos de montagem que dispensam o uso de moldura. As fotos podem ser adesivadas em uma superfície rígida (geralmente alumínio) que receberá um requadro, normalmente sua área é menor que a área total, para ser pendurada e dar a impressão de estar “flutuando” na parede. Nesse caso a imagem ficará muito mais exposta e vulnerável,  o recomendado é a utilização de papéis semi-brilho, pois eles oferecem mais resistência que os papéis mate. Ao menor toque no papel mate a mancha pode ser riscada, para esses papéis o ideal é a moldura com vidro, ela evita contato acidental e também o pó.

O canvas é esticado num chassis de madeira como a tela de pintura. Na hora de imprimir é possível escolher espelhar a borda, para que a lateral não fique branca. Isso pode ser solicitado ao estúdio de impressão. O canvas depois de esticado pode receber uma moldura, mas isso vai de acordo com a preferência e particularidade da obra.

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Fonte: site Hahnemühle – Canvas Artist

 

Para mais informações sobre conservação, o SISEM possui um material disponível para download gratuito: Confecção de embalagens para acondicionamento de documentos.

A cadeia de produção da obra fine art, desde sua concepção até sua exposição ou guarda, é um processo complexo, que requer a observação de vários detalhes e a utilização de insumos apropriados que irão conferir qualidade, profissionalismo, longevidade e o mais importante: valor. E não apenas o valor no seu sentido econômico, mas principalmente a percepção de valor que uma obra bem executada provoca em seus espectadores, valor esse que é, sem dúvidas, estendido à/ao artista; e as obras, quando conservadas da maneira correta, poderão ser vivenciadas e apreciadas por várias gerações.