A arte pública, a arte que fugiu dos seus espaços tradicionais – museus e galerias – esparramou-se e, em vez de esperar passivamente enclausurada por uma visita, foi ao encontro de seu público, sua audiência, nas ruas e toda sorte de espaços abertos, capturando a atenção e o olhar a laço. Estátuas, monumentos, intervenções, performances e é claro ela, a arte urbana independente, crítica e irônica, que permanece no efêmero sempre em mutação, a mesma e outra, onde artistas podem se fazer gigantes em um mural pintado numa empena cega. Para nós que somos seres duais: beleza e questionamento, arte e vandalismo, mas principalmente inércia e movimento. A cidade é uma enorme coleção de arte.
Intervenções no espaço público sempre aconteceram, mas a arte urbana como a conhecemos agora iniciou-se nos EUA, com o movimento underground, que foi influenciado por sua vez pela contracultura dos anos 1960. O final da década de 1960 foi um momento de efervescência no mundo: Maio de 68, movimentos estudantis, trabalhistas, Vietnã, Guerra Fria, ditadura militar no Brasil. Toda essa ebulição global que culminava com o fim dos Anos Gloriosos fez surgir movimentos como o Hip Hop e o Punk com suas insatisfações e reivindicações. Contestação e luta que se dava na rua, com muita música, dança e, é claro, muito graffiti e pichações. O pixo é nosso! Sim, uma escrita estilizada genuinamente made in Brasil e mais precisamente em Sampa, mas a street art se fez universal.
Abaixo alguns exemplos de arte urbana:
Grafite: desenhos estilizados geralmente feitos com sprays nas paredes de edifícios, túneis, ruas. Há muitas técnicas de grafite e atualmente os trabalhos em 3d chamam a atenção dos críticos.
Estêncil: essa técnica utiliza o papel recortado como molde e o spray para produzir as ilustrações e desenhos nas ruas, postes, paredes.
Poemas: qualquer tipo de manifestação literária que surge no ambiente urbano, seja nos bancos, paredes, postes.
Adesivos: chamado de “sticker art” (arte em adesivo), esse tipo de arte utiliza a aplicação de adesivos pela cidade.
Cartazes: Muito comum esse tipo de intervenção urbana, também chamada de “lambe-lambe”, cartazes (papel e cola) são fixados pela cidade (postes, praças, tapumes, edifícios, etc.). Podem ser feitos manualmente ou impressos.
Estátuas Vivas: muito encontrado nas grandes cidades como forma de entretenimento turístico, as estátuas vivas realizam um importante trabalho com o corpo, os quais permanecem estáticos durante longo tempo, realizando pequenos movimentos. Geralmente estão pintados e caracterizados.
Apresentações: essas apresentações de rua podem ser de caráter teatral, musical, circense (malabaristas, palhaços, etc.), sendo trabalhos solos ou em grupos.
Instalações: são inúmeros tipos de instalações artísticas como exemplos de arte de rua, sejam objetos, materiais distintos, com o intuito de provocar uma mudança no cenário já existente.
A arte urbana, ou street art, pelo mundo
Melbourne
Melbourne, segunda maior cidade da Austrália, ficou conhecida como a capital do estêncil e até chegou a realizar um festival entre os anos 2004-2010. É claro que outras formas de graffiti (li em um site que eles não gostam muito que usem essa palavra) estão presentes na rica coleção de arte urbana da cidade:
Berlim
Berlim, capital da Alemanha. Não se pode pensar na arte urbana da cidade sem recordar do muro que dividiu a capital entre os anos 1961-1989. No lado ocidental o artista veterano Thierry Noir tentou deixar o “muro antifascista” mais colorido e muitos artistas também quiseram deixar as suas contribuições. A queda do muro de Berlim ocorreu em 1989 e dois anos depois o mundo veria a dissolução da URSS:
Barcelona
Se eu tivesse que escolher viver em outro lugar este lugar seria Barcelona. A cidade não é uma coleção de arte, ela é a própria arte. Desde os vestígios e ruínas da ocupação romana até os murais preenchidos por graffiti, passando pelas criações orgânicas de Gaudí e as estátuas humanas que povoam Las Ramblas, Barcelona tem uma parte do meu coração:
Buenos Aires
Cidade obrigatória para quem curte arte urbana. Em Buenos Aires, capital da Argentina, além da oferta de muitas paredes, muros e edifícios abandonados (boa parte durante a ditadura militar argentina), a única exigência é a permissão do proprietário do imóvel para realizar as pinturas e isso tem atraído artistas do mundo inteiro. Como costuma acontecer, bairros abandonados e degradados recebem as intervenções e transformam-se em atrações turísticas. Revitalizados, acabam por ressuscitar e encantar visitantes:
Paris
Nem só de Louvre e Torre Eiffel vive a capital da França. Palco de grandes manifestações estudantis no famoso Maio de 68, jovens, influenciados pela street art surgida nos EUA, começaram preencher paredes e muros da cidade com inscrições de cunho político e social. Mas foi apenas nos anos 1980 que a arte urbana parisiense começou a ganhar os contornos responsáveis pela sua popularização e que fizeram Paris entrar definitivamente para o mapa da street art. Os artistas Blek le rat e Jérôme Mesnager (O Homem de Branco) foram os pioneiros dessa época, já nos anos 1990 o artista Invader fez a sua invasão com seus mosaicos já tão conhecidos:
Cidade do Cabo
A política de segregação racial, conhecida como apartheid ou racismo institucionalizado, foi oficializada em 1948 e só chegou ao fim em 1992. Nelson Mandela, líder da oposição ao regime racista, foi preso e condenado à prisão perpétua em 1962 e só foi libertado em 1990. A arte urbana eclodiu, nos anos 1980, na Cidade do Cabo, nos bairros segregados como forma de expressar o horror e o descontentamento com a situação imposta. Hoje os desenhos estão espalhados pela cidade:
Murais Zapatistas
O movimento zapatista, inspirado na luta de Emiliano Zapata contra o ditador Porfírio Díaz, tem como principais características a defesa de uma gestão autônoma e democrática do território, a participação direta da população, a partilha da terra e da colheita. Os zapatistas concentram-se no sul e sudeste do México, principalmente Oaxaca e Chiapas. Os murais pintados dentro do território zapatista são parte fundamental do movimento e carregam a herança visual local de tradição muralista iniciada ainda com os Maias:
Londres
Escrever nas paredes sempre foi um ato mais ou menos disseminado e na Inglaterra isso não foi diferente, desde os anos 1960 frases, algumas sem um sentido óbvio e outras de cunho social/político, já eram escritas à tinta nas paredes. Mas a arte urbana que conhecemos hoje começou, como não poderia deixar de ser, com a influência da turma de Nova York, principalmente da chamada “subway art” o graffiti feito nos metrôs, túneis e estações que se tornou febre em boa medida graças ao trabalho da fotógrafa de rua, e consequente de arte urbana, norte-americana Martha Cooper. Também aconteceram muitas interações entre artistas de Paris e Londres, Blek le rat também é uma grande influência, e o resultado a gente vê pela cidade:
Nova York
Onde tudo começou, mas primeiro um breve pulo até a Filadélfia. O ano era 1965 e um rapaz de doze anos se tornaria o precursor do graffiti moderno. Darryl “Cornbread” McCray estava em um centro de correção para jovens encrenqueiros e lá ganhou esse apelido por, obviamente, adorar pão de milho. Ele abraçou o codinome e passou a “taguear” as paredes do centro com ele, em vez de se envolver com uso de drogas e brigas, Cornbread acabou por iniciar um movimento. Quando foi solto juntou-se a alguns amigos, que também se tornariam lendas como Cool Earl e Kool Klepto Kid, e tomaram as ruas da Filadélfia. Quanto mais improvável o local da tag melhor. O movimento se espalhou, ganhou adeptos e depois de chegar até Nova York culminou com a explosão da street art para o mundo. O resto da história a gente já sabe:
São Paulo
Maior cidade da América Latina é impossível caminhar pelas ruas da capital paulista sem encontrar algum tipo de arte urbana. Graffitis, lambes, artistas de rua, malabaristas, instalações, intervenções e, é claro, o pixo. Mesmo com pressa ainda podemos nos encantar com um belo mural enquanto aguardamos para atravessar uma rua ou quando observamos a paisagem pelas janelas de ônibus, trens ou metrô. Entre músicos e pregadores, São Paulo, que fez aniversário no último dia 25, é tudo isso e muito mais, uma cidade que é do tamanho de um país e que pode comportar o mundo todo em seus muros e paredes.
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