Modelos de negócios NFT

modelos de negócio NFT
Bored Ape Yacht Club

A adesão aos modelos de negócios NFT tem crescido assim como as possibilidades de uso da tecnologia  blockchain ficam cada vez mais evidentes

Os tokens não-fungíveis continuam a agitar as manchetes pelo mundo. Cada vez mais novos modelos de negócios NFT e outras aplicações para a utilização da tecnologia blockchain mostram o grande potencial que o universo cripto representa. Apesar de não ser algo novo, sua popularização aconteceu apenas no início de 2021, quando a venda milionária de uma obra do artista Beeple colocou os NFT’s definitivamente entre os assuntos mais comentados.

O NFT representou um passo muito importante para artistas digitais, pois a possibilidade de mintar (gerar o registro NFT na blockchain) uma obra digital, o que significa ser possível atestar a sua originalidade e autenticidade em um universo onde tudo pode ser copiado e colado, agregou mais valor às obras além de permitir sua comercialização por meio de contratos inteligentes, o que garante os direitos autorais e o recebimento de royalties sobre as revendas, com muito mais independência. Vários modelos de negócios NFT surgiram a partir de então.

Mas não foram só artistas digitais que enxergaram essa oportunidade. As obras físicas também foram parar nas blockchains sendo ofertadas junto aos seus respectivos NFT’s. O artista Damien Hirst criou, em 2021, 10.000 desenhos em papel tamanho A4, praticamente iguais, porém únicos, com assinatura, número de série, marca d’água e holograma (o que remete aos itens de segurança de uma cédula de dinheiro) e de cada desenho foi criado um NFT. Após dois meses o comprador teria que optar entre ficar com a obra física, neste caso o NFT seria retirado da blockchain, ou com o NFT, neste último a obra física seria destruída. De acordo com Damien, “sim, estou forçando as pessoas a fazer uma escolha. Mas o comprador sempre tem uma escolha. Não é só onde está o valor, mas também onde está o prazer”, em entrevista ao Financial Times, ele também afirmou esperar que a maioria opte pela obra física, apesar de admitir que seria “emocionante” se não fizessem: “É um experimento”.

modelos de negócios NFT

Damien Hirst The Currency – Credit: Heni

Neste modelo híbrido, podemos citar a recente adesão dos herdeiros do pintor Pablo Picasso. A neta e o bisneto, Marina e seu filho Florian Picasso, digitalizaram uma cerâmica inédita do famoso artista espanhol. Datada de outubro de 1958, a peça agora digitalizada, tem o tamanho de uma grande saladeira. De acordo com Marina Picasso, a peça faz parte de sua vida em família e representa a “felicidade”. A casa especializada em leilões Sotheby’s realizará, em março, o leilão que incluirá um NFT exclusivo e a própria obra de cerâmica.

Experimento parece ser algo bastante presente no criptoverso. Obras produzidas inteiramente por meio de código, a arte generativa tem feito bastante sucesso, inclusive monetário, principalmente com as suas coleções de avatares, como os famosos (e caros) Bored Ape Yacht Club. No caso dos macacos entediados são 10.000 variações que são obtidas com a combinação de 170 características possíveis de maneira aleatória — como cores, roupas, expressões e acessórios. As combinações resultam em tokens mais comuns e outros mais raros, que têm valores mais altos. A compra de um dos avatares ainda te dá acesso a um grupo seleto com celebridades, empresários milionários e executivos de grandes empresas.

modelos de negócios NFT

Bored Ape Yacht Club

Foi pensando nas oportunidades que a arte generativa traz que surgiu a plataforma Art Blocks. A Art Blocks veio com a proposta de juntar arte generativa e blockchain; lançada em novembro de 2020, é uma plataforma onde artistas/programadores criam seus algoritmos, na rede Ethereum, usando contratos inteligentes que, quando executados, geram obras de arte aleatórias dentro dos padrões e diretrizes estabelecidos. Cada obra gerada torna-se um NFT colocado automaticamente na carteira do comprador. A novidade está justamente em não saber de antemão qual a obra adquirida e na esperança de que ela tenha alguma característica especial que a torne mais rara e, consequentemente, mais valiosa para uma possível revenda, já que os valores iniciais costumam ser mais baixos.

modelos de negócios NFT

Art Blocks

Mais alguns modelos de negócios NFT

Os NFT’s têm atraído negócios nas mais diversas áreas: música, moda, esportes, games, etc. Roupas e acessórios para serem usadas pelos avatares nos ambientes virtuais, inclusive com a presença de grifes famosas. Itens para games e até jogadas e cards dos seus atletas favoritos. Eventos virtuais e/ou físicos com ingressos inteligentes, artes e demais itens para fãs, tanto em NFT quanto físicos, que já são vendidos via blockchain. Os ambientes virtual/físico estão com as delimitações cada vez mais tênues e a tendência é que essa divisão torne-se ainda mais imperceptível com o surgimento de novas aplicações. Em uma entrevista para a Meio&Mensagem, Bruna Botelho, CEO e fundadora da StadiumGO!, nos traz algumas previsões para o futuro dos NFT’s:

“Por diversos motivos, acredito que o NFT deixará de ser visto apenas como token não-fungível para ter usabilidade mais voltada a smart contract [contratos inteligentes] do futuro. Para os investidores que já são profissionais, esse serviço traz ainda mais sentido, devido à baixa burocracia do exercício e rendimentos pré-fixados. Estamos gerindo nova tendência financeira. Além do potencial do NFT como ativo, existe a usabilidade que traz ao imortalizar arquivos de mídia para o fã. É como se o seu pôster ou card não sofressem corrosões com o tempo. Nesse sentido, olhando para o B2B, a percepção é que a jurisprudência de direitos autorais deva se caminhar para aderir ao universo NFT no futuro, pois o registro de autenticidade e titularidade das obras já seriam internacionais e mais seguros devido à imortalidade de contratos, governança e transparência que a tecnologia blockchain traz”.

Imagine um sistema de identificação pessoal/intransferível único e seguro, que fosse utilizado desde compras online até atestar a sua identidade. Que fosse protegido e você determinaria quem poderia ter acesso às informações que você permitir. Isso já é possível. Uma identidade digital em blockchain acabaria em definitivo com a necessidade, por exemplo, de criar um cadastro para cada site onde fazemos uma compra ou assinamos um serviço. E esses sites não mais teriam a propriedade sobre os nossos dados, evitando o uso indevido e a venda dessas informações como revelado com os escândalos no caso Facebook/Meta.

Em 15 de novembro de 2020 o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) realizou alguns testes para avaliar a tecnologia blockchain na realização de eleições. Como bem frisou, à época, Campos Júnior, presidente do TRE-SP, “não há previsão, ainda estamos em uma fase embrionária, porém, já temos notícias de que este sistema de votação à distância acaba por aumentar o número de eleitores. Mas reafirmo que para mudarmos o sistema atual, temos que ter um sistema tão ou mais seguro do que aquele que temos hoje” e ainda reforçou que o principal objetivo do teste foi dar a oportunidade, para as empresas selecionadas, de demonstrarem que o voto pode ser livre e esclarecido mesmo à distância.

Esses foram alguns exemplos de modelos de negócios NFT e algumas possíveis aplicações da blockchain. Transparência e descentralização com respeito à privacidade de dados, esses são os pontos que precisamos manter em mente quando se trata da tecnologia blockchain. Um assunto, a princípio, complexo, mas que precisa ser estudado e discutido para além das questões meramente especulativas.