Colecionismo fine art: diga-me o que penduras na parede e te direi quem és!
O colecionismo fine art pode ser uma ótima opção para colecionadores. Colecionar é uma atividade que aprimora nossa capacidade de selecionar, organizar, reconhecer padrões e desvios, nos traz satisfação e boas lembranças na medida em que uma coleção nos transporta para lugares muitos caros na memória. Quem nunca teve uma coleção, seja de conchas recolhidas nas praias, selos ou figurinhas, para chamar de sua? Como nos explica o neurocientista, psicólogo e colecionador Daniel Krawczyk, em seu TED sobre coleções, “o cérebro humano é programado para colecionar coisas”. Já Maria Isabel R. Lenzi [1] nos informa que:
“Colecionar é uma atividade universalmente difundida. Krzysztof Pomian define coleção como um conjunto de objetos mantidos fora do circuito econômico e guardados sob uma proteção especial, muitas vezes exposto ao olhar público. Lembra também que algumas peças de coleção são fonte de prazer estético, outras permitem a aquisição de conhecimentos e que o fato de possuir uma coleção confere prestígio, pois testemunha o gosto, o refinamento intelectual, ou mesmo a riqueza ou generosidade do colecionador. É a hierarquia social que conduz inevitavelmente ao aparecimento das coleções”.
Filatelia é o estudo e colecionismo de selos postais
Quando o assunto é coleção de arte logo imaginamos as grandes coleções de museus, galerias e demais instituições. Sempre que visito esses lugares costumo eleger aqueles nos quais eu “moraria”, aqui em São Paulo, sem dúvidas, é a Pinacoteca que ocupa o primeiro lugar na minha preferência por moradia, mas nos lugares que costumo visitar, em outras cidades (estados e países inclusive), sempre elejo aqueles que também poderiam ser minha casa e assim crio minha própria coleção de lares imaginários. Mas a verdade é que não precisamos morar nas grandes coleções. Podemos criar a nossa própria galeria no conforto do nosso lar e para isso a fine art é uma excelente escolha.
Pina – Foto: site oficial
A fine art é uma obra gráfica produzida a partir de um arquivo digital. Pode ser fotografia já capturada por câmeras digitais, desenhos/pinturas digitais ou ainda negativos/positivos, desenhos e demais criações artesanais digitalizadas. A impressão é feita em impressoras jatos de tinta, que utilizam pigmentos minerais, em papéis especiais, geralmente de algodão ou alfacelulose, que possuem um revestimento especial (coated paper) que garantem a distribuição correta dos pigmentos na superfície do papel e proporcionam máxima qualidade.
Existe todo um cuidado de calibração dos equipamentos e no manuseio de arquivos e das obras finais. A montagem (emolduramento) precisa ser feita com materiais neutros que atendam às recomendações museológicas. Com os cuidados observados atendidos temos em mãos uma obra que pode durar mais de 200 anos. Todo esse processo além de garantir a longevidade também adiciona valor às obras que também funcionam como uma ótima opção de investimento.
Fonte: Site Hahnemühle
Colecionismo fine art em casa
Vale a pena destacar que a impressão fine art para a fotografia possui duplo benefício: ela é ideal tanto para fotografia fine art quanto para a fotografia social, afinal, não são apenas as belas fotografias de arte que merecem qualidade e longevidade. Nossos momentos especiais também precisam ser materializados e essas lembranças também são dignas de serem passadas para as próximas gerações.
Com o surgimento de smartphones e redes sociais, passar uma foto para o papel tornou-se algo bastante raro, mas algumas ocasiões em família precisam ser preservadas e nem sempre conseguimos isso só com a nuvem ou hd’s. Para esses casos existem álbuns e caixas com qualidade de museu que preservam as fotografias impressas e oferecem uma opção mais prática de armazenamento para aquelas que não ganharão uma moldura e ficarão expostas na parede ou em porta-retratos.
Caixa para guarda de fotografia fine art
O isolamento provocado pela pandemia fez com que muitas pessoas passassem muito mais tempo em casa. É nesses momentos que nos damos conta de que nem sempre as coisas estão como gostaríamos que estivessem. Essa pausa forçada nos mostrou a importância que a arte, nas suas mais variadas formas e linguagens tem. Filmes, séries, música e livros foram nossas companhias constantes e foi nesse momento mais caseiro que muitas pessoas puderam perceber o poder que as obras de arte têm de transformar um ambiente.
A vontade de morar na Pinacoteca não existe por acaso. As obras de arte proporcionam uma atmosfera de conforto e acolhimento ao mesmo tempo que ajudam a transmitir um pouco das nossas escolhas e personalidade: diga-me o que penduras na parede e te direi quem és! Acaba funcionando, inclusive, como exercício de autoconhecimento, o que me agrada? O que eu gosto de ver? Do que quero me cercar? Essas são algumas questões que podem ser levantadas quando iniciamos uma coleção.
Exemplo de gallery wall
Exemplo de gallery wall
Obviamente não podemos deixar de lado o aspecto financeiro de uma coleção, ela é um investimento sim. Mas também não podemos nos esquecer das facetas sociais das obras de arte. Elas movimentam todo um ecossistema formado por instituições, artistas, ateliês, estúdios, escolas, estudantes, professores, trabalhadoras/es em geral e ações sociais. Muitas vidas são impactadas pela produção de obras. A convivência e a própria existência desses lugares e atividades interferem diretamente na sociedade. A memória é essencial para um povo e a arte é uma das principais maneiras de se preservar essa memória.
Talvez o que hoje chamamos de arte tenha surgido com um caráter muito mais utilitário, muito mais voltado para a nossa necessidade de registrar nossos aprendizados e garantir a sobrevivência da nossa espécie. As técnicas e usos evoluíram, mas a sua importância, ainda que de pronto não seja percebida, continua mais forte do que nunca. Ainda aprendemos muito com as imagens e, atualmente, mais do que nunca somos cercados por elas. Se olhar para uma obra na parede ainda nos provoca admiração é porque jamais nos esquecemos, bem lá no fundo de nossas células, que as imagens foram a nossa salvação e ainda são.
Caverna de Chauvet, França – BBC News
Referências Bibliográficas
[1] LENZI, Maria Isabel R. Coleção Gilberto Ferrez. In: CAVALCANTI, Ana; OLIVEIRA, Emerson Dionisio de; COUTO, Maria de Fátima Morethy; NETO, Maria João; MALTA, Marize (orgs.). Anais eletrônicos do II Encontro do Grupo MODOS/ II Colóquio Internacional Coleções de Arte em Portugal e Brasil: Histórias da arte em coleções – comunicações. Rio de Janeiro: EBA-UFRJ, 2016, p.20-31. Disponível em:
http://www.eba.ufrj.br/index.php/2012-05-25-09-39-48/edicoes-eba
